Fazia um tempo que eu queria escrever sobre a arte do desapego e o nosso consumismo de cada dia. Ia adiando, deixando pra depois, mas, cá estou. É hora de compartilhar com vocês um processo que aconteceu comigo - e a mudança pra NY tem muito a ver com isso.

Vamos começar pelo começo - óbvio. Como mulher e como blogueira, sempre curti umas comprinhas, claro. Eu tinha fases para produtos de beleza. Tive a fase das bases, a fase dos esmaltes, a fase dos batons.... Sem contar os produtos que ganhei por causa do blog. Enfim, minha coleção de cosméticos sempre foi generosa, não posso negar. Mas também preciso dizer que jamais empenhei meu cartão de crédito nesse tipo de gastos. Nunca ultrapassei meu limite e me orgulho de guardar uma parte do salário desde que conquistei minha independência financeira. Mesmo assim, eu sei que tinha mais cosméticos do que precisava.

E também havia as roupas né? Afinal, faço parte daquela porcentagem de 99% das mulheres - para não generalizar - que ama uma roupa nova. Além de bolsas, sapatos... E como a gente vai sempre evoluindo, vão mudando os gostos, o estilo... o closet acaba te acompanhando neste processo.

Daí em outubro veio a confirmação de que sim, nós iríamos morar em NY. Passada a empolgação inicial daquele momento, começaram as preocupações. Hoje, vejo que essas preocupações eram bobagens, mas elas fizeram parte do meu amadurecimento como pessoa. Vieram os questionamentos: mas e as minhas coisas? Porque né, só pra relembrá-las: não dava pra fazer uma mudança pra NY. Era encher duas malas de 32kg + uma de mão e deu. Meus 27 anos de vida seriam resumidos assim.

Eu tinha o meu apartamento todo mobiliado. Não era meu imóvel, mas tudo que estava lá dentro era meu. Havia sido adquirido com o meu dinheiro, meu suor, meu trabalho. E eu me orgulhava muito daquilo tudo. Tinha feito 4 móveis sob medida - incluindo escrivaninha e armário top, já que eu trabalhava em casa. E preciso dizer que não foi fácil me desfazer de tudo. Ficava pensando: mas vou ficar sem nada? E se um dia eu voltar? Neste meio-tempo, minha irmã estava para encontrar um cantinho novo pra ela em Floripa (ela dividia apartamento e estava a fim de um lugar só pra ela). Daí minha mãe veio dizer pra eu emprestar os móveis pra ela, deixar pro apartamento dela. E eu, com minha preocupação mesquinha, só sabia dizer: "Claro, ela pode usar os móveis, desde que cuide". Foi aí que a minha mãe me disse algo que me tocou e fez eu começar a ver as coisas diferentes. Ela disse: "Minha filha, por que você fica se apegando aos móveis? Esquece isso, é vida nova, NY. Se você voltar um dia, pense que voltará muito melhor do que está indo e terá condições de comprar coisas iguais ou melhores".

Essa fala de minha mãe foi essencial para o meu processo de mudança. Somos acostumados ao material, ao ter, ao conquistar, ao comprar e, quem acaba tendo que encarar uma mudança como a minha, sofre. E os móveis foram só um detalhe de todo o processo. Ainda tinham as minhas roupas, os meus livros, meus DVDs... Cheguei ao ponto de consultar com os Correios pra ver quanto custava enviar coisas do Brasil pros EUA - pra mãe poder me enviar o que eu, porventura, não conseguisse trazer. E aí foi a minha tia que entrou na história e me aconselhou. Ela tem uma filha morando no Texas há 13 anos e sabia bem tudo que eu estava passando. Lembro que ela comentou comigo que eu deveria esquecer esse lance de mandar coisas do Brasil pros Eua. Que era muito caro e não valia a pena. Bateu um desespero na hora, sabem? Mas e as minhas coisas? E se eu não conseguir trazer aquele vestido? E aquele sapato? E aquela bolsa?

Óbvio que nesta altura do campeonato vocês devem estar pensando o quão otária eu fui, já que né, eu estava vindo pra NY! Paraíso das compras de beleza, moda, eletrônicos e tudo mais. Hoje eu vejo meu comportamento com outros olhos, obviamente, mas acho que isso faz parte e me ajudou muito a amadurecer. Acabei tendo tempo de sobra entre outubro e janeiro para assimilar essa mudança e, acreditem ou não, acabei trazendo menos de 32kg em cada mala.

Tudo isso me fez perceber como precisamos de pouco para viver. E isso se refletiu na hora de alugar nosso apartamento aqui e mobiliá-lo. Lembro que vimos alguns apartamentos bem maiores e ficamos, a princípio, empolgados. Depois, eu pensei: mas um apartamento grande para quê? Pra gente sentir aquela necessidade absurda de preencher os espaços com móveis, tapetes, quadros e etc? Acabamos vindo para um apê de um quarto, que é pequeno, sim, mas atende às nossas necessidades. E temos o necessário. Óbvio que eu penso em um lugar maior, em uma sala mais aconchegante, mas, por enquanto, não sou menos feliz por causa disso, sabem? Essa coisa de ter vindo pra cá - e de não sabermos por quanto tempo vamos ficar - faz eu ser mais cautelosa.

Quanto aos cosméticos e roupas, pude observar várias coisas. Eu não preciso de 250 vidros de esmaltes, tampouco de 7 bases ou 20 sombras que eu não uso. Eu continuo amando maquiagem, mas eu faço compras mais inteligentes e me policio para só comprar algo novo quando esse item for substituir algo que já acabou. Não, também não pensem que eu sou perfeita. Tenho os meus impulsos ainda - afinal, com farmácias recheadas de novidades, às vezes é difícil resistir, hehe - mas sou muito mais controlada hoje do que no passado. E as roupas continuam sendo meu fraco, não posso negar, mas eu sou regrada. Valorizo fast fashion - porque não tenho coragem de pagar vários zeros por uma peça. Penso muito mais na utilidade de um calçado antes de comprá-lo, assim como o quanto poderei usar uma bolsa. Reflito sobre como a peça que estou namorando vai combinar com as que tenho em casa. E fiz até meu mural no Pinterest pra me ajudar a ser mais criativa com os looks - contei neste post aqui.

Enfim, chega a ser uma ironia, porque estou numa cidade onde tudo é relativamente barato e em vez de eu sair e comprar tudo aquilo que teria vontade, eu prefiro pisar no freio e ser mais cautelosa. Não estou sendo menos feliz por causa disso. Melhor fazer uma coisa de cada vez. É claro que meu pensamento pode mudar - é óbvio que daqui a uns anos eu possa valorizar mais uma mobília dentro de um apartamento... eu continuo a me apaixonar por lençóis bonitos, eu continuo a sonhar com o nosso sofá enorme. Mas cada sonho tem seu tempo e a gente não precisa colocar a carroça na frente do bois. Afinal, há tanto a ser vivido! Experiências de vida é que vão contar lá na frente - muito mais do que uma coleção de sapatos ou um closet de 200 metros quadrados.

Gostaram do meu relato? Quero ler os comentários de vocês!